quarta-feira, 16 de julho de 2008

DEMÊNCIA RELACIONADA AO HIV

Demência relacionada ao HIV

© Equipe Editorial Bibliomed

Neste Artigo:

- Introdução
- Exame do paciente
- Exames complementares
- Abordagem terapêutica
- Conclusão
- Referências Bibliográficas

As complicações psiquiátricas são freqüentes em pacientes com HIV. A demência induzida pelo vírus é uma fonte comum de morbidade, em geral nos estágios mais avançados da doença. Em 1986, este distúrbio foi denominado complexo demencial da AIDS (CDA), descrevendo a constelação singular de achados neurológicos e comportamentais. A CDA é considerada uma doença específica, porém com espectro, manifestações clínicas e severidade variadas.

Introdução

A incidência de demência em pacientes nos estágios mais avançados da infecção pelo HIV varia de 7% a 27%. As formas mais brandas do complexo demencial da AIDS (CDA) afetam outros 30-40% dos pacientes com HIV. A prevalência da CDA triplica nos indivíduos com contagens de CD4 <200,>

Em até 15% dos pacientes, a CDA é a primeira manifestação da infecção pelo HIV. A CDA causa um aumento significativo na morbidade associada à AIDS através de uma série de fatores, incluindo aumento do número de hospitalizações, aumento na duração do período de internação, e decréscimo na expectativa de vida (em comparação aos pacientes com AIDS sem CDA).

Pacientes com AIDS que desenvolvem CDA possuem uma expectativa de vida de cerca de 6 meses, caso não sejam tratados adequadamente,

Exame do paciente

A CDA caracteriza-se por sintomas cognitivos, motores e comportamentais. A mielopatia HIV-associada se manifesta principalmente com sintomas motores, incluindo paraparesias, espasticidade dos membros inferiores e ataxia. Em contrapartida, pacientes com CDA podem apresentar inicialmente apenas sintomas psiquiátricos, tais como depressão, mania ou psicose.

A CDA pode ser dividida em duas categorias clínicas: uma forma mais severa (p.ex.: complexo demencial HIV-associado, mielopatia HIV-associada), e uma forma menos severa (p.ex.: distúrbios cognitivos / motores menores compatíveis com alterações neurocognitivas HIV-associadas). A principal diferença entre as duas categorias é o grau de comprometimento das atividades diárias. Nos pacientes com CDA, a capacidade de trabalho e sociabilização se encontra profundamente comprometida. Isto não ocorre nos indivíduos com distúrbios cognitivos / motores menores.

Os principais sintomas da forma menos severa incluem: problemas na memória de curto prazo e na concentração, problemas comportamentais, alterações na personalidade, depressão, ansiedade, apatia, letargia, perda do apetite sexual, isolamento social, irritabilidade, labilidade emocional, delírios, alucinações, alterações da marcha, lentidão dos movimentos mais finos e tremores, entre outros.

As principais manifestações da forma mais grave de CDA incluem incontinência esfincteriana, hiperreflexias, hipertonia, mioclonias, neuropatia periférica, apraxia, afasia, agnosia, quadriparesia, paraparesia, estado vegetativo.

Demência relacionada ao HIV: principais diagnósticos diferenciais

  • Alcoolismo
  • Transtorno bipolar
  • Depressão
  • Uso de drogas injetáveis
  • Transtornos Esquizofrênicos
  • Toxoplasmose
  • Meningite criptocócica
  • Neurossífilis
  • Encefalite por citomegalovírus
  • Leucoencefalopatia multifocal progressiva
  • Linfoma cerebral
  • Deficiência de vitamina B12
  • Tireopatia
  • Reações medicamentosas adversas
  • Infecções sistêmicas

Exames complementares

Sorologia para sífilis, níveis séricos de vitamina B12 e folato, ionograma, painel tireoideano, uréia, creatinina e screening para as drogas mais comuns devem ser realizados em todos os pacientes com CDA.

Dos exames de imagem, a ressonância nuclear magnética (RNM) é a primeira escolha. A RNM é útil para excluir outras causas centrais de demência, incluindo toxoplasmose, leucoencefalopatia multifocal progressiva e linfoma cerebral. O grau de atrofia cerebral em geral correlaciona-se com os sintomas e a progressão da CDA. Contudo, nos estágios iniciais, a RNM pode ser completamente normal.

Dependendo do cenário clínico e a presença de comorbidades, outros exames podem ser solicitados, tais como eletroencefalograma, avaliações neuropsicológicas, e punção lombar para análise do líquor.

Abordagem terapêutica

Vários estudos mostraram que o tratamento com múltiplos anti-retrovirais é superior a monoterapia ou ao não-tratamento em pacientes com CDA. Existem mais de uma dúzia de anti-retrovirais utilizados no tratamento do HIV, mas a maioria atinge uma má concentração no SNC. As principais exceções a esta regra incluem stavudina, abacavir, nevirapina e zidovudina (ZDV).

A ZDV é o anti-retroviral mais estudado. Desde sua introdução em 1987, vários estudos mostraram que a ZDV é capaz de reduzir o risco de demência relacionada ao HIV de 53% para 10%. A ZDV também reduz as alterações radiológicas, neuropsicológicas e clínicas nos pacientes afetados.

A didanosina também vem sendo testada como tratamento isolado em crianças com CDA, com resultados preliminares animadores. Entretanto, a terapia anti-retroviral combinada (highly active antiretroviral therapy ou HAART) é superior ao uso isolado de ZDV ou didanosina.

Conclusão

Em até 15% dos pacientes portadores de HIV, o complexo demencial da AIDS (CDA) é a primeira manifestação da infecção viral. O tratamento precoce agressivo com antivirais é capaz de prevenir a maioria das conseqüências devastadoras do CDA. Nos pacientes com demência instalada e sem tratamento específico, a progressão ocorre de modo rápido, culminando com óbito após cerca de 3-6 meses de evolução.

Referências Bibliográficas

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Copyright © 2008 Bibliomed, Inc. 15 de julho de 2008

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