sábado, 24 de maio de 2008

Abordagem Terapêutica da Hipetrigliceridemia

Abordagem Terapêutica da Hipetrigliceridemia

© Equipe Editorial Bibliomed

Neste Artigo:

- Introdução
- Agentes farmacológicos
- Abordagem do paciente
- Conclusão
- Referências Bibliográficas

Não raramente, pacientes com diagnóstico de dispepsia são referidos ao consultório do Gastroenterologista apresentando, entre outras alterações, aumentos significativos dos níveis séricos de triglicerídios. A Hipertrigliceridemia está associada a um aumento no risco de problemas cardiovasculares e pancreatite aguda. Sua correção, além de reduzir os níveis de LDL e aumentar os níveis de HDL, também diminui a morbiletalidade cardiovascular.

Introdução

O papel da Hipertrigliceridemia como um fator de risco independente para Coronariopatia é controverso, mas muitos estudos observacionais mostram uma associação positiva entre os dois distúrbios.

Muitos pacientes portadores de Hipertrigliceridemia apresentam queixas gastrenterológicas (p.ex.: pancreatite, dispepsia crônica) ou são referidos para acompanhamento com o gastroenterologista como parte de uma abordagem multidisciplinar para obesidade, diabetes ou hipertensão arterial.

Neste cenário, é essencial que o especialista reconheça os recursos terapêuticos à sua disposição e saiba como e quando empregá-los.

Trigliceridemia: níveis

Normal

<>

Aumento Leve

151-199 mg/dL

Aumento Moderado

200-499 mg/dL

Aumento Severo

> 500 mg/dL

Agentes Farmacológicos

Os principais fármacos disponíveis para tratamento farmacológico da Hipertrigliceridemia incluem Estatinas, Fibratos, Niacina e Óleo de peixe.

Estatinas

O objetivo primário do tratamento da Dislipidemia é reduzir os níveis de colesterol LDL. Nos pacientes com hipertrigliceridemia associada, as estatinas são capazes de reduzir os níveis séricos de triglicerídios em 20-40%.

Fibratos

Podem reduzir significativamente os níveis de triglicerídios (40-60%), além de elevar discretamente os níveis de HDL (15-25%). Em pacientes portadores de doenças cardiovasculares, com aumento moderado dos níveis de triglicerídios e baixos níveis de colesterol HDL, os fibratos se mostraram capazes de reduzir o risco de eventos cardiovasculares. O tratamento com fibratos também é capaz de diminuir a progressão da coronariopatia em pacientes com diabetes melito tipo 2.

Vários estudos mostraram que a redução dos níveis de triglicerídios, tanto quanto a redução isolada dos níveis de LDL, é capaz de reduzir os índices de mortalidade por cardiovasculopatias. Por isso, tem havido um grande interesse no emprego de fibratos associados a estatinas em pacientes com dislipidemia mista.

Todavia, a terapia combinada tem causado preocupação do ponto de vista de segurança. Todas as estatinas (especialmente em doses elevadas) aumentam o risco de rabdomiólise. E este risco é aumentado com a associação de fibratos. A saída é utilizar a menor doses possíveis de estatina, monitorizando cuidadosamente possíveis efeitos colaterais relacionados a rabdomiólise (p.ex.: mialgias, urina de cor amarronzada).

Niacina

A Niacina é capaz de reduzir os níveis de triglicerídios em 30-50% e de LDL em 5-25%, além de aumentar os níveis de HDL em 20-30%. Ela não é tão potente quanto os fibratos no tratamento da hipertrigliceridemia, mas é mais eficaz no tangente ao aumento dos níveis de HDL.

Infelizmente, a preocupação quanto ao controle dos níveis glicêmicos pode limitar o emprego da Niacina em pacientes diabéticos. Ainda assim, existe um consenso de que a Niacina pode ser utilizada em pacientes diabéticos de alto risco cardiovascular com hipertrigliceridemia e baixos níveis de HDL.

A Niacina também pode resultar em efeitos colaterais vasomotores e elevação dos níveis séricos de enzimas hepáticas. Estes efeitos adversos podem ser minimizados iniciando-se o tratamento com baixas doses e associando uma tomada de ácido acetil-salicílico 30 minutos antes da Niacina.

Óleo de Peixe

O óleo de peixe contém grandes quantidades dos ácidos graxos essenciais Docosahexaenóico (DHA) e eicosapentaenóico (EPA). Estes ácidos também são conhecidos como ácidos graxos Omega-3. Compostos com 2-4 g de EPA/DHA são capazes de reduzir os níveis de triglicerídios em 30-50%. Além das estatinas, o óleo de peite é o único hipolipemiante capaz de reduzir significativamente a mortalidade global em pacientes com cardiovasculopatia conhecida.

Vale ressaltar que os efeitos benéficos são obtidos com doses diárias de 2-4 gramas de EPA/DHA por dia, e a maioria das formulações disponíveis no mercado possui 300 mg ou menos de EPA/DHA por cápsula.

Hipertrigliceridemia: farmacoterapia

Estatinas

Reduzem os triglicerídios em 20-40% e o colesterol LDL em 18-55%, e aumentam o colesterol HDL em 5-15%. Os principais efeitos adversos incluem miopatia, rabdomiólise e aumento das enzimas hepáticas. Os principais representantes da classe são: Atorvastatina (10-80 mg à noite), Fluvastatina (20-80 mg à noite), Lovastatina (10-80 mg à noite), Pravastatina (10-80 mg à noite), Rosuvastatina (5-20 mg à noite) e Sinvastatina (5-80 mg à noite).

Fibratos

Reduzem os triglicerídios em 40-60%, e aumentam o LDL em 5-30% e o HDL em 15-25%. A rabdomiólise é o principal efeito adverso, especialmente quando se utiliza uma combinação de gemfibrozil com estatinas. Os principais representantes da classe incluem Fenofibrato (48-145 mg/dia) e Gemfibrozil (600 mg duas vezes ao dia).

Niacina

Reduz os níveis de triglicerídios em 30-50%, e reduz o LDL em 5-25% e o HDL em 20-30%. Posologia: 0,5 a 2,0 gramas duas a três vezes ao dia (comprimidos de liberação imediata) ou 250-750 mg uma ou duas vezes ao dia (comprimidos de liberação lenta). Principais efeitos adversos incluem vermelhidão facial, descompensação glicêmica e aumento dos níveis de enzimas hepáticas.

Óleo de Peixe

Reduz os níveis de triglicerídios em 30-50%, porém aumenta os níveis de colesterol total (LDL e HDL) em 5-10%. Posologia: comprimidos contendo ésteres de ácido Omega-3 (1 a 2 gramas por dia). Dispepsia e sintomas gastrintestinais irritativos são os principais efeitos colaterais.

Abordagem do paciente

Ao se deparar com um paciente com Hipertrigliceridemia, a primeira medida deve ser um aconselhamento sobre mudanças nos hábitos de vida. O papel da perda ponderal, da dieta equilibrada (pobre em açúcar e rica em fibras), da prática regular de exercícios e da interrupção do tabagismo jamais deve ser menosprezado.

Todos os pacientes devem ser avaliados quanto à presença de comorbidades. Por exemplo: se o paciente for portador de diabetes, as medidas para controle dos níveis glicêmicos poderá resultar em correção da hipertrigliceridemia sem necessidade de medicamentos hipolipemiantes adicionais.

Em pacientes hipertensos, a redução da morbiletalidade cardiovascular dependerá também da correção dos níveis tensionais.

Em todos os casos, a farmacoterapia deve ser individualizada ao máximo.

Conclusão

Apesar da abordagem terapêutica da dislipidemia mista ainda ser motivo de grandes controvérsias, o tratamento deve ser direcionado principalmente para a redução dos níveis de colesterol LDL. Se os níveis de triglicerídios também estiverem altos, sua redução também ajudará a manter os níveis de LDL dentro dos limites desejáveis. Pacientes com hipertrigliceridemia severa devem ser tratados de modo mais urgente devido ao risco de pancreatite aguda. Além da deita (e outras mudanças nos hábitos de vida), os principais recursos farmacoterápicos incluem estatinas, fibratos, niacina e óleo de peixe, tomados isoladamente ou em associação.

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