terça-feira, 6 de maio de 2008

SÍNDROMES ASPIRATIVAS (SAsp)

Neste Artigo:

- Introdução
- Exame do paciente
- Exames complementares
- Tratamento
- Conclusão
- Referências Bibliográficas

As Síndromes Aspirativas (SAsp) incluem todas as situações onde substâncias estranhas são inaladas pelos pulmões. Em geral, estas síndromes decorrem da presença de conteúdos orais ou gástricos associados a refluxo gastresofágico, disfunções da deglutição, distúrbios neurológicos e/ou anormalidades estruturais. Pacientes que sofrem de SAsp apresentam um risco significativo para seqüelas respiratórias graves e até mesmo morte. Um evento de aspiração maciça possui um índice de mortalidade de 25%.

Introdução

Não existem dados estatísticos bastante específicos sobre a incidência das Síndromes Aspirativas (SAsp), uma vez que o distúrbio apenas reflete a freqüência da doença subjacente.

As principais causas de SAsp incluem Refluxo Gastresofágico (RGE), disfunções da deglutição, distúrbios neurológicos e alterações anatômicas. Até 80% das crianças com asma apresentam RGE, e cerca de 40-50% daquelas com RGE desenvolvem sintomas respiratórios aspirativos. Cerca de 70% dos pacientes com disfagia faríngea apresentam aspiração silenciosa.

Exame do paciente

As 4 situações clínicas mais freqüentemente associadas a SAsp incluem sibilos recorrentes, apnéia, tosse crônica e pneumonia recorrente.

Os sibilos podem estar relacionados à aspiração de conteúdo gástrico. O risco de aspiração deve ser considerado em todo pacientes com sintomas asmáticos refratários ao tratamento habitual; sintomas respiratórios noturnos ou inexplicáveis; ou dificuldade em associar os sintomas à exposição a alérgenos ambientais, IVAS ou exercícios.

Pneumonias recorrentes comumente são observadas em crianças com problemas neurológicos. Episódios de apnéia (tanto obstrutiva quanto central) podem estar associados à aspiração em crianças muito novas. A microaspiração indireta do refluxo causa inflamação laríngea, rouquidão e tosse. A bem da verdade, a tosse crônica, definida como tosse com mais de 3 semanas de duração, pode ser a única manifestação da aspiração recorrente.

A presença de sintomas respiratórios em certos cenários clínicos também deve levantar a possibilidade de SAsp, como, por exemplo, crianças com abscessos pulmonares, fibrose cística, bronquiectasias, bronquite crônica, bronquiolite obliterante, doença pulmonar obstrutiva crônica ou até mesmo soluços persistentes.

Ao exame físico, a SAsp pode apresentar-se com febre, taquipnéia, sibilos, estertores crepitantes, tosse, congestão das vias aéreas superiores, baqueteamento digital (no caso de pneumopatias crônicas), batimento de aletas nasais, tiragens intercostais, cianose, rouquidão, irritabilidade, erosões dentais e sinais de hipoxemia.

Exames complementares

A avaliação complementar inicial deve incluir: hemograma completo, gasometria arterial, análise do suor, espirometria e níveis séricos de IgM, IgG, IgA e IgE.

A radiografia simples do tórax pode revelar hiperinsuflação, infiltrados peri-hilares ou intersticiais uni ou bilaterais, derrame pleural, consolidações lobares ou segmentares, e/ou bronquiectasias.

A avaliação do trato gastrintestinal superior com contrastes ou endoscopia é essencial para avaliar a presença de hérnia de hiato, má-rotação, estenoses, e esofagite eosinofílica.

A pH-metria de 24 é um teste bastante sensível para detectar RGE.

Outros exames que devem ser considerados na vigência de SAsp incluem laringoscopia e broncoscopia flexível com lavado bronquioalveolar.

Tratamento

A abordagem conservadora deve ser a conduta inicial. A criança deve ser posicionada o mais de pé possível durante a alimentação. Bebês com menos de 6 meses não devem ser colocados sentados por pelo menos 90 minutos após a alimentação. O mesmo intervalo de tempo deve ser observado entre a última refeição e a hora de dormir. A elevação da cabeceira em 30º pode ajudar.

As principais modificações dietoterápicas incluem uso de engrossantes, aumento da freqüência com redução do volume das refeições (10-20 mL/Kg/refeição). Outras medidas terapêuticas podem ser associadas de acordo com o distúrbio de base.

Durante um episódio agudo de SAsp, a conduta consiste em liberação das vias aéreas e – em alguns casos – antibioticoterapia (cefalosporinas de segunda ou terceira geração são os agentes mais indicados). Havendo necessidade, o paciente deve ser intubado para proteger as vias aéreas. A observação em nível hospitalar pode ser necessária nas primeiras 48h.

Os dados concernentes ao emprego de corticóides no tratamento das SAsp são limitados. Vários estudos clínicos não foram capazes de demonstrar benefícios significativos no uso de corticóides durante eventos aspirativos agudos. Com base nestes dados, a corticoterapia sistêmica não deve administrada de forma rotineira.

Procedimentos cirúrgicos, como fundoplicatura de Nissen, gastrostomia, jejunostomia, traqueostomia e outros, podem ser indicados conforme a necessidade.

Conclusão

De um modo geral, as síndromes aspirativas (SAsp) possuem um prognóstico favorável, mas a evolução do paciente no longo prazo dependerá grandemente do distúrbio de base. O refluxo gastroesofágico, uma das principais causas de SAsp, costuma se resolver espontaneamente por volta dos 12-24 meses de idade.

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